Acredita, para quem gosta de histórias e História, não há experiência mais incrível do que a que acabámos de ter: dormimos num convento do século XIII.
Há vários meses que, quem passava junto à Igreja de São Domingos, ali na baixa lisboeta entre a Praça da Figueira e o Rossio, se questionava que edifício se estaria a erguer na Rua Dom Antão de Almada.
A resposta chegou no passado mês de agosto, altura em que foi inaugurada a quinta unidade hoteleira do grupo Vignette Hotels em Lisboa, o Convent Square Hotel.
O antigo convento do século XIII: a cronologia
Nem imaginas o quanto entusiasmados ficámos por saber que iríamos dormir num sítio com séculos de história, num antigo edifício que faz parte da própria História da cidade e de Portugal. Ainda hoje estamos incrédulos!
Mas a verdade é que aconteceu e nós adorámos a experiência, que te vamos contar mais em baixo nestas linhas.
Para já, deixa-nos contar-te um pouco da história deste convento do século XIII.
O Convent Square Hotel fica agora situado num local onde existiu o Convento de São Domingos, junto à igreja com o mesmo nome, há mais de 800 anos.
Ordenado construir pelo rei D. Sancho II em 1242, via a sua construção terminar em 1259.
Terá sido neste convento dominicano que D. João I, Mestre de Avis, por conselho de D. Nuno Álvares Pereira, convocou as Cortes de Coimbra, em 1385, onde seria aclamado Rei de Portugal.
Quase 150 anos depois, o terramoto de 1531 destruiu este convento quase na sua totalidade, obrigando a uma reedificação em 1536, obras que ainda hoje são visíveis junto à sacristia.
Séculos mais tarde, outro terramoto, o de 1755, deitou por terra tudo o que fazia deste espaço um lugar rico em alfaias preciosas, pratas maciças, pinturas e tesouros, salvando-se apenas a capela-mor.
Em 1834, o Convento de São Domingos foi extinto e, mais próximo dos nossos dias, em 1959, um violento incêndio destruiu por completo toda a decoração interior da igreja, que só reabriria ao público em 1994, nunca escondendo as marcas de tal catástrofe nas suas paredes de mármore e colunas ainda rachadas.
Atualmente, esta igreja lisboeta está classificada como Monumento Nacional e, no mesmo ano da sua reabertura, a Ordem Dominicana acabou por inaugurar um novo Convento de São Domingos, desta vez na Rua de João Freiras Branco, no Alto dos Moinhos.
O “velho” Convento de São Domingos é, agora, o mais recente hotel de luxo em Lisboa, o Convent Square, onde tivemos o privilégio de passar uma noite e de ainda “sentir” toda a história que por ali passou.
Por exemplo, no átrio, que é incrível e parece um verdadeiro oásis no meio da cidade, ainda existe o antigo poço por onde se extraía a água para dar de beber a quem habitava o convento, assim como a quem por aqui passava nas suas peregrinações.
Não foi possível manter muito mais do antigo que existia, mas neste espaço interior ao ar livre, vais ainda encontrar duas pequenas oliveiras centenárias que embelezam muito o local desenhado pelo arquiteto Marcelo Azevedo, que conseguiu recuperar grande parte da estrutura, como as colunas e as abóbadas originais do século XIII, preservando assim grande parte da sua história.
O hotel que já teve “outras vidas”
O atual Convent Square Hotel já foi palco de outros negócios nas décadas de 70 e 80, com a gigante loja de objetos para a casa Braz & Braz a ocupar estas paredes.
Antes disso, já tinha sido um hospital e, imagina, um matadouro.
Por isso, 800 anos depois, é com muito agrado e satisfação que agora pode ser visitado por todos, devolvendo à cidade de Lisboa uma peça de enorme prestígio patrimonial.
O convento do século XIII, agora transformado num hotel de luxo mesmo no meio da cidade, possui uma decoração moderna e, ao mesmo tempo, não “foge” muito ao seu passado, com destaque para os mármores e azulejos, além de outros pormenores – menos proeminentes – alusivos à Ordem Dominicana e à Igreja de São Domingos, que fica mesmo ali ao lado.
O restaurante da portugalidade
E isso nota-se, principalmente, no seu restaurante, o Capítulo, gerido pelo conhecido Chef português Vítor Sobral, que acabou por assinar um menu onde podes provar toda a portugalidade, seja a que hora do dia for.
Provámos tanta coisa boa que ainda hoje sonhamos com os sabores intensos e simples desta degustação: começámos no Couvert de Patê de Grão, Azeitonas Marinadas e Queijo de Ovelha Curado (7€); para entrada pedimos o Tártaro de Novilho, Funcho, Alcaparras, Trufa e Cebolinho (14€) e a Salada de Camarão (14€); e como prato principal tínhamos que apostar no Arroz do Mar com Lulas, Camarão, Berbigão e Peixe do Dia (33€); para sobremesa, foi impossível resistir ao Pudim Abade Priscos, Ananás Caramelizado e Hortelã (8€) e ao original e reinventado Toucinho do Céu (8€).
Estava tudo uma delícia, além de ter sido uma experiência gastronómica incrível e memorável.
O bar “medicinal”
Junto ao Capítulo fica o incrível e muito bonito bar, com duas mãos cheias de cocktails, engenhosamente criados e preparados por uma equipa que sabe muito bem como misturar bebidas, algumas delas nunca havíamos provado ou ouvido falar.
Provámos tantos cocktails que, sinceramente, já nem sabemos o nome de todos. Até porque praticamente todos eles são originais, de assinatura, e têm nomes que, de alguma forma, são inspirados nos poderes medicinais que os monges aplicavam a quem por este convento passava.
Ainda assim, dois ou três ficaram retidos nas nossas papilas gustativas: o Sedative (34€), que é perfeito para partilhar entre amigos; o Antidote (16€), com base de Vodka e um toque de Pepino; o Elixir (16€), com Gin e Xarope Caseiro de Alecrim; ou o Remedy (16€), com Rum 1888 e Espuma de Coco.
Existem muitos outros, e também os clássicos, que valem bem a viagem até este magnífico bar.
O átrio e lounge, calmantes e relaxantes
Lá fora, nos claustros e no lounge, junto às lareiras (ou famosas pitfire) e aos confortáveis cadeirões, abre-se um amplo espaço a novas experiências, como a degustação de chás, que acontece todos os dias às cinco da tarde, claro!
Todos são convidados, hóspedes e visitantes, a vir provar algumas das blends mais fantásticas que já provámos, desde o simples Chá Preto até às infusões: Diamante, com Lúcia-Lima, Tília, Malva-Silvestre e Malva-Rosa; Rooibos à Portuguesa, com Rooibos, Giesta-Branca, Carqueja e Tomilho-Poejo; ou Púrpura, com Hibisco, Equinácia, Framboeseiro e Mirtilo.
Cada um destes chás podem ser provados por 6€.
O conforto dos hóspedes
O Convent Square Hotel possui 121 quartos, segmentados em cinco categorias, desde o mais simples com 20m2 até à suíte, que possui o dobro das áreas e uma varanda.
E que confortáveis que os quartos de hotel hoje em dia são, ou não fosse esta uma unidade de luxo, onde até os quartos mais básicos oferecem mordomias de sonho.
No nosso encontrámos uma cama king size cheia de almofadas, autênticas nuvens de conforto.
Em frente, um pilar com uma TV integrada, que tanto roda para a zona da cama como para uma pequena área de descanso com secretária e Internet, máquina de café e chás e, para adoçar a boca, pastéis de nata em miniatura.
A vista lá para fora dá conta dos claustros, que à noite oferecem uma vista completamente diferente, mais quente e apetecível.
No quinto andar do Convent Square Hotel, visitámos (sem experimentar) um ginásio com várias máquinas e pesos e, na sala ao lado, uma pequena piscina interior com sauna.
No centro da capital
Este convento do século XIII fica mesmo no meio da cidade, numa localização muito privilegiada e perto de tudo.
Além da Igreja de São Domingos, daqui podes visitar a Estação do Rossio, uma das mais bonitas do mundo; ver espetáculos nos teatros D. Maria II e Politeama, e concertos no Coliseu dos Recreios, assim como ir até ao Elevador da Glória ou passear na Avenida da Liberdade.
Para o outro lado, podes explorar toda a Rua Augusta, o miradouro do Arco da Rua Augusta e a Praça do Comércio, seguindo a pé até ao Cais das Colunas.
Morada: Rua Dom Antão de Almada 4 (entre a Praça da Figueira e o Rossio)
Horários: sempre aberto
Reservas: estadias entre 270€ e 350€, no site