O propósito da Rita e do Paulo, mentores do projeto Letreiro Galeria, é muito simples,
O nosso objetivo é fazer um museu com os sinais que temos vindo a resgatar, um local onde todos possam usufruir de uma memória gráfica que tem vindo a desaparecer nas ruas de Lisboa.”
A exposição Brilha Rio fica localizada no parque de estacionamento de um dos mais recentes empreendimentos da cidade de Lisboa, no Prata Riverside Village, no bairro de Marvila.
Letreiros que contam histórias
Fomos até lá e falámos com os organizadores deste nostálgico projeto, que tanto se têm esforçado para manter “acesas” as histórias que estão por detrás de cada um destes painéis luminosos.
Dependendo da tua idade, temos a certeza que serás capaz de reconhecer alguns destes sinais urbanos, luminosos ou não, que durante tantos anos embelezaram as paredes, portas e telhados da nossa cidade, nomeadamente em vias como a Avenida de Roma, a Avenida da Igreja, a Avenida Almirante Reis, e, claro, a Baixa Pombalina e as ruas do Ouro e Garrett, no Chiado.
Parte da memória coletiva
A exposição Brilha Rio é uma verdadeira viagem ao passado, cheia de histórias associadas a cada um dos letreiros, néons e peças de comunicação e publicidade únicas.
É uma verdadeira expedição à história da cidade de Lisboa, onde vais encontrar letreiros e néons tão icónicos como o da “Casa Frazão” na Rua Augusta, sapataria “Cerimónia” na Rua Alexandre Herculano, “Pastelaria Suíça” (um dos maiores desta mostra) na Praça do Rossio, ou o enorme néon do Hotel Ritz da Rua Rodrigo da Fonseca, que foi uma autêntica odisseia para o desinstalar e trazer para este espaço.
Todos estes letreiros fazem parte da memória coletiva da cidade e são, emocionalmente, bastante fortes para quem os agora recorda e para quem deles teve que prescindir.
Foram algumas destas histórias que fomos saber junto da Rita e do Paulo, e que agora te vamos contar.
A exposição Brilha Rio
Rita e Paulo fazem isto por amor à camisola, desde 2014, quando começaram a resgatar letreiros luminosos desativados das fachadas de alguns edifícios em Lisboa.
Segundo o casal, esta é uma das formas mais “brilhantes” de contar a história da cidade, através deste património gráfico único que atualmente está em desuso.
Lisboa Secreta: Quantos letreiros podemos encontrar na exposição Brilha Rio?
Rita: Aqui estão cerca de 75 letreiros, mas a nossa coleção tem, ao todo, 250 letreiros.
LS: Como e há quanto tempo é que têm este projeto?
Paulo: Nós começámos a fotografar os letreiros dos estabelecimentos. Somos designers gráficos e queríamos fazer alguma coisa sobre as letras de Lisboa. Quando começámos a perceber que alguns letreiros já não estavam nas suas fachadas, vimos que os mesmos estavam a ser deitados ao lixo.
Em 2014 vimo-nos obrigados a recolher estas peças porque julgamos que fazem parte da história da cidade. A Rita investigou sobre esta área e percebeu que em Berlim havia quem se dedicasse a este tipo de projetos.
Decidimos tentar reunir um espólio destas peças para criar um museu ou, como lhe costumamos chamar, um “armazém expositivo”.
LS: Fazem alguma espécie de investigação sobre a história de cada um dos letreiros que guardam?
Rita: Fazemos investigação nos arquivos municipais da Câmara de Lisboa, além de também pesquisarmos outros arquivos fotográficos na Gulbenkian ou na Torre do Tombo.
No Arquivo de Lisboa, achámos muito interessante os antigos pedidos de licenciamento para colocar um letreiro na fachada de um edifício, que tinha vários departamentos de aprovação.
LS: Há algum letreiro com uma história muito “especial” neste vosso projeto?
Rita: Cada letreiro tem uma história, desde o levantamento que nós fazemos na cidade até à nossa própria história com o dono do letreiro ou com quem o fabricou.
São todos especiais, mas há um que é muito especial, que é o do Cabeleireiro Costa, na Avenida Infante Santo. Nós conhecemos o Sr. Costa em 2014, quando vimos que o letreiro que estava na fachada já não tinha o néon. Entrei no cabeleireiro, apresentei o nosso projeto e estabelecemos ali uma ligação. No fim, disse-me para passar lá daqui a algum tempo e, passados quatro anos, o Sr. Costa já estava doente.
Quando faleceu, a sua viúva pediu-nos para ficar com o letreiro, que estava totalmente inativo. Com os donativos que conseguimos numa exposição anterior, resolvemos voltar a dar vida a este néon.
Acabámos por perder o contacto com a viúva do Sr. Costa, mas num destes dias fomos surpreendidos com a sua visita à nossa exposição, precisamente no dia em que o Sr. Costa faria 83 anos.
A propósito desta história, queria ressalvar que nem todos os letreiros têm histórias tristes. Há histórias felizes e alguns destes nomes ainda se mantém em atividade, por exemplo a sapataria Cerimónia, cuja dona esteve por cá a tirar fotografias em frente ao seu antigo letreiro, toda orgulhosa.
Paulo: Há filhos de donos que vêm cá e ficam muito sensibilizados com os letreiros dos seus pais, porque acreditam que imortalizam a vida dos seus progenitores.
LS: Como é que está estruturada a exposição Brilha Rio?
Rita: Todas as nossas exposições são organizadas por áreas comerciais. Logo à entrada temos os cabeleireiros, depois temos as sapatarias, o vestuário, temos a zona dos restaurantes e a dos oculistas. Temos ainda uma área destinada aos automóveis e outra à hotelaria. Há ainda uma área mais técnica, referente à moldagem do néon e aos seus diferentes tipos.
Organizamos ainda as exposições no que se refere à tipologia de letreiros: néons, portas de corta-vento, letras em metal, vidros pintados no verso e caixas de luz.
Paulo: E também há uma surpresa nesta exposição, que é uma máquina que possui uma luz e que, ao rodar, cria um efeito dinâmico muito interessante, tendo em conta a data em que foi construída.
LS: Como é que vieram aqui parar, ao Prata Riverside Village?
Paulo: A exposição está cá porque, através da plataforma P’la Arte, que tem um mercado de artesanato neste mesmo espaço no primeiro sábado de cada mês, fomos convidados pela Prata Riverside Village para instalar a nossa exposição até ao final de maio, dia 29.
Desta forma, conseguimos aproveitar um espaço que até agosto iria estar vazio, sem utilização.
No fim, a Rita e o Paulo, sempre muito simpáticos e prestáveis, adiantaram-nos que, depois do dia 29 de maio, os letreiros voltariam a ficar apagados.
Por isso, se conheces algum sítio onde esta exposição possa manter-se acesa, a contar as histórias de Lisboa, não hesites em contactá-los através do seu perfil no Instagram.
Temos a certeza que ficarão muito felizes de poder voltar a abrilhantar qualquer espaço na cidade.
Morada: Parque de estacionamento do Prata Riverside Village (Marvila)
Horário: até 29 de maio, de sexta-feira a domingo, entre as 15h e as 20h
Preço: entrada grátis