Mas esta artéria guarda História e histórias, do século XVIII até ao presente. Vamos descobri-las?
Índice
Rua da Augusta Figura do Rei
Tantas vezes já dissemos “Rua Augusta” que nos esquecemos de perguntar a nós mesmos: “Mas afinal, quem é a Augusta?”.
Pois bem, o nome completo da Rua Augusta é Rua da Augusta Figura do Rei, uma homenagem ao monarca D. José I, figura retratada na estátua equestre da Praça do Comércio.
Este rei foi também o responsável pela inauguração da prática de atribuição de nomes de ruas por decreto e foi da sua responsabilidade a Portaria de 5 de novembro de 1760.
Nesse documento estabeleceu-se, por um lado, a denominação dos arruamentos da Baixa lisboeta e, por outro, a distribuição dos ofícios e ramos do comércio pelas diferentes ruas da Baixa. Segundo o decreto, a Rua Augusta deveria alojar os mercadores de lã e de seda.
Fernando Pessoa
Esta artéria primordial da Baixa esteve também ligada à vida do estimado poeta Fernando Pessoa.
Entre 1934 e 1935, tinha o escritor 46 anos, a firma “E. Dias Serras, Lda”, também conhecida por “Casa Serras”, terá sido o seu local de trabalho. A empresa, dedicada à “importação e representação”, funcionava no 1º andar do número 228.
Curioso é que grande parte da vida de Pessoa está ligada a esta zona da cidade: foi, aliás, quando trabalhava na firma “Félix, Valladas & Freitas, Lda”, no nº 42 da Rua da Assunção, que terá conhecido a sua namorada Ophélia Queiroz, o único relacionamento oficial do poeta.
Uma loja centenária
Fundada em 1913 no número 272 da Rua Augusta, a Casa Macário dedica-se ao comércio de bebidas, bombons, cafés, chás e chocolates. É um dos lugares de referência para comprar vinho do Porto na Baixa, assim como produtos regionais e guloseimas.
Na entrada, uma tabuleta indica “Please Don’t Clean The Bottles” porque, neste espaço, as garrafas querem-se cobertas de pó para comprovar a sua história.
Mesmo à saída da loja, se olhares para o chão vai ter uma surpresa: na calçada portuguesa, lê-se “Café, Chá e Chocolates | 274 – 272”, simbolizando os produtos que ali se vendem e os números de porta que a loja ocupa há já 106 anos.
Arco da Rua Augusta
Embora tenha sido inaugurado em 1875, o Arco da Rua Augusta foi planeado em 1759 para comemorar a reconstrução pombalina da cidade após o terramoto de 1755.
Sim, demorou mais de um século a estar concluído e chegou a ser comparado às obras de Santa Engrácia pelos historiadores da época.
Idealizado pelo arquiteto Eugénio dos Santos, foi Veríssimo José da Costa que acabou por assinar o projeto numa construção que se revelou bastante atribulada.
O Arco começou a ser construído em 1775, mas a primeira versão seria demolida em 1777, após a subida ao poder de D. Maria I e a demissão de Marquês de Pombal.
Em 1873, retomou-se a edificação do Arco, num projeto de Veríssimo José da Costa aprovado em 1844, tendo ficado as obras concluídas em 1875.
Para todos aqueles que já se questionaram sobre a inscrição em latim no topo, esta serve de tributo ao Império Português e significa: “Às Virtudes dos Maiores, para que sirva a todos de ensinamento. Dedicado a expensas públicas”.
Esta última sigla significa que o Arco foi realizado com dinheiro público, sem interferência de qualquer mecenas — PPD, em latim, simboliza “Pecunia Publica Dedicat“, ou seja, “(Construído) com o Dinheiro do Povo”.
Casa Africana
Por certo já ouviste ser evocada a expressão “preto da Casa Africana” quando alguém está muito carregado.
Embora seja uma expressão claramente racista, a verdade é que a Casa Africana foi um dos estabelecimentos comerciais mais emblemáticos da Rua Augusta — e a sua imagem de marca era, efetivamente, um africano carregadíssimo, que transportava as encomendas e embrulhos dos clientes.
Fundada em 1872 na Rua da Vitória, entre os números 33 e 37, a loja foi ampliada no início de 1896, passando a ocupar também os números 152, 154 e 156 da Rua Augusta.
Em 1905, a loja mudou novamente de localização para um edifício que dava para a Rua Augusta, para a Rua da Vitória e para a Rua dos Sapateiros.
Os anúncios da época diziam que a loja era a que mais barato vendia em Lisboa, dedicando-se ao comércio de confecções, chapéus de senhora, sedas e lãs. Na fachada, permanecia a famosa imagem de marca: o “Preto da Casa Africana”.
A loja fechou portas em definitivo no final da década de 90 do século passado. Atualmente, o mesmo edifício é ocupado pela… Zara.
As ruas paralelas e perpendiculares
A Baixa Pombalina, sonhada por Marquês de Pombal, concebeu a Rua Augusta como eixo central de ligação entre a Praça do Comércio e a Praça D. Pedro IV (Rossio).
No entanto, são várias as ruas que a cruzam e rodeiam, todas com diferentes graus de importância que podem ser averiguados pela sua largura e pela tipologia dos edifícios.
As ruas paralelas mais importantes são:
- Rua do Ouro, ou Rua Áurea, outrora reservada aos artesãos que trabalhavam este material precioso e aos relojoeiros;
- Rua da Prata, antes chamada Rua Bela da Rainha (em homenagem à Rainha D. Mariana Vitória, casada com D. José I), que albergava os ourives da prata e livreiros;
- Rua dos Fanqueiros, anterior Rua Nova da Princesa, dedicada aos comerciantes de fancaria (comércio de tecidos), lençaria e quinquilharia.
Existem ainda outras três ruas paralelas à Rua Augusta, mas por serem de menor importância e dimensão, receberam nomes de profissões menos nobres: Rua dos Sapateiros, Rua dos Correeiros e Rua dos Douradores.
Todas a artérias transversais têm nomes de índole religiosa: a primeira a contar do Rossio é a Rua de Santa Justa, depois Assunção, Vitória, São Nicolau, Conceição, São Julião e Rua do Comércio, noutros tempos Rua Nova D’El Rei cujo nome foi alterado em 1910 com a Implantação da República.