O Chalet da Condessa d’Edla é apenas um de muitos motivos pelos quais Sintra é sinónimo de romance.
O verde da serra envolvente e o charme requintado dos seus palácios, fazem desta vila um cenário digno de um conto de fadas. E, tal como qualquer livro de encantar, há sempre um amor por contar.
É, precisamente, este o espírito que nos leva até ao Chalet da Condessa d’Edla, um espaço que representa o estilo romântico, típico do séc. XIX, em todo o seu esplendor. O edifício e a sua recuperação merecem destaque, mas já lá iremos.
Primeiramente, queremos contar a história do rei de Portugal que se apaixonou por uma cantora lírica, num enredo digno de um filme da Disney. Vamos lá?
Chalet da Condessa d’Edla, uma síntese do amor
Construído entre 1864 e 1869, segundo o modelo dos chalets alpinos então em voga na Europa, este espaço foi concebido para ser o “ninho do amor” de um casal especial.
D. Fernando II, viúvo da rainha D. Maria II, apaixonou-se perdidamente por Elise Hensler, uma cantora lírica.
Os dois conheceram-se após a artista atuar no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa.
Com uma diferença de quase 20 anos, o monarca e a cantora viveram uma história de amor intensa. Enquanto não era “oficial”, a sociedade fazia “vista grossa”. Afinal, não era a primeira vez que alguém de “sangue azul” tinha as suas paixões.
No entanto, tudo mudou no momento em que D. Fernando II anunciou o casamento com Elise. A notícia causou um certo mal-estar na família real e nos aristocratas da época, mas apesar do burburinho gerado, o rei casou-se em 1869.
É neste contexto que começa a ser desenhado este belo Chalet.
Mas, quem foi Elise Hensler?
Elise Hensler, feita Condessa d’Edla por Ernesto II de Saxe-Coburgo-Gota dias antes da cerimónia de casamento com D. Fernando II, agitou a vida do rei. Mas, quem foi esta mulher?
A segunda esposa do monarca, e muito provavelmente a maior “arquiteta’ do Chalet”, nasceu na Suíça, em 1836, e viveu muito tempo em Boston, nos E.U.A.
Mas foi na Europa que alcançou o estrelato, como cantora lírica, destacando-se a sua passagem pelo célebre Teatro alla Scala, em Milão (Itália).
Na qualidade de artista visitou vários palcos e foi precisamente em Portugal que tudo mudou, tal como já foi mencionado.
Após o enlace com D. Fernando II, a agora Condessa d’Edla mudou-se para Sintra, onde juntos orquestraram o belo Chalet.
Um amor que “chocou” até ao fim
Com a morte de D. Fernando II, a Condessa d’Edla herdou em testamento o Parque da Pena e todas as suas construções, incluindo o Palácio da Pena e o Chalet.
Mas tal como o casamento, também o testamento foi contestado. Sob forte pressão pública, e após um processo judicial, Elise acabou por vender os bens ao Estado, em 1889.
No entanto, a ex-cantora de ópera permaneceu no Chalet e Jardins adjacentes, na qualidade de usufrutuária, até 1904.
Com a queda da monarquia, em 1910, a gestão dos espaços passou para o Estado.
Chalet da Condessa d’Edla: a obra
Já aqui falamos da história de D. Fernando e Elise Hensler, fator essencial para perceber melhor a particularidade do edifício. Mas agora é tempo de mergulharmos nos detalhes desta bela construção.
O Chalet da Condessa d’Edla não apresenta a opulência do Palácio da Pena, mas é igualmente bonito e surpreendente.
Está envolvido por uma forte carga cénica, típica do estilo romântico que marcou o séc. XIX. Com características muito singulares, a sua fachada e os interiores são incomparáveis.
É de destacar a marcação horizontal do reboco exterior, pintado de forma a imitar um revestimento em pranchas de madeira, mas também o uso constante da cortiça como elemento decorativo.
No interior, a organização em planta é simples, mas a riqueza dos detalhes de decoração está à vista de todos.
Nas soluções decorativas merecem particular destaque as seguintes:
- A pintura mural das escadas;
- A pintura do vestíbulo nobre e do teto do quarto principal;
- A pintura do toillete da Condessa d’Edla (ou Quarto das Rendas), onde o primor do detalhe confere a sensação de estarmos perante uma renda verdadeira.
Além dos elementos acima mencionados, é de destacar ainda:
- O estuque decorativo da Sala das Heras;
- O revestimento azulejar azul e branco da cozinha;
- E os painéis embutidos de cortiça e madeira, que revestiam as paredes e teto da sala de jantar e quarto de vestir do rei.
Poder-se-á dizer que o Chalet da Condessa d’Edla, no seu todo, reflete as veias artísticas do casal. A par da riqueza dos elementos decorativos, o próprio cenário exterior remete-nos para um cenário cenográfico.
O bonito edifício é ladeado por uma paisagem exótica, onde se destacam alguns elementos, como o Caramanchão e o labirinto de Pedras do Chalet, entre outros.
O incêndio e uma nova vida depois disso
Durante algum tempo, esta construção do séc. XIX esteve abandonada. E em 1999 sofreu um duro golpe, visto que foi consumida por um incêndio.
Em 2000, foi constituída a sociedade de capitais exclusivamente públicos Parques de Sintra – Monte da Lua, SA, (PSML), a quem o Estado confiou a gestão dos espaços da Paisagem Cultural de Sintra.
A reconstrução do Chalet iniciou-se em agosto de 2007 e a reabertura ao público deu-se quatro anos depois.
O projeto de recuperação foi distinguido em 2013 com o Prémio União Europeia para o Património Cultural – Europa Nostra, na categoria de Conservação.
Tal como num conto de fadas, este foi o “renascer” de um espaço romântico, que é símbolo do amor, um lugar encantador à espera de ser (re)descoberto, em Sintra.
Morada: Estrada da Pena (coordenadas GPS: 38º 47’ 9.41” N 9º 23’ 58.48” W)
Horários: todos os dias das 09h às 18h
Bilhetes: no site