Desde a fundação que este tipo de comércio no Chiado tem atraído grandes figuras das artes, da política e dos negócios.
Hoje, todos gostam de passar por lá, nem que seja para ver as montras que respiram tradição.
No interior, o encanto continua, com um serviço à antiga e mobiliário cheio de história e… de estórias. Se aquelas paredes falassem…
Entre as muitas lojas históricas do Chiado, escolhemos 10 que tens mesmo de conhecer. A antiguidade é um posto, mas estas casas são mesmo de visita obrigatória.
Índice
Caza das Vellas Loreto
Fundada em 1789, numa época em que “caza” ainda se escrevia com um “z” e “vellas”, com dois “l”, a Caza das Vellas Loreto é, seguramente, umas das lojas mais antigas de Lisboa.
Tão antiga que, quando abriu portas, ainda nem existia eletricidade ou gás na cidade. Na altura, foi obrigada a ter duas tochas acesas à noite para iluminar a rua, caso contrário não poderia funcionar.
Pertencente à mesma família (Sá Pereira) há seis gerações, revela um interior extremamente bem cuidado, com os seus belos armários envidraçados, um relógio de pêndulo sob a data da fundação e um suave aroma a cera e óleos essenciais.
Nas traseiras, longe dos olhares dos visitantes, fica a fábrica.
Morada: Rua do Loreto 53
Luvaria Ulisses
Pequenina no tamanho, mas grande em história e tradição, esta loja da Rua do Carmo assenta que nem uma luva no charmoso Chiado.
Fundada em 1925, a Luvaria Ulisses tem modelos para todos os gostos, carteiras e medidas.
Quando abriu portas, nenhuma senhora queria sair de casa sem o seu par de luvas. Por isso, na altura, o negócio ia de vento em popa.
Hoje, os tempos são diferentes, mas comprar na Luvaria Ulisses continua a ser um sinal de elegância e bom gosto.
Morada: Rua do Carmo 87-A
Joalharia do Carmo
Paredes meias com a Luvaria Ulisses, esta joalharia orgulha-se (e com razão) de ter uma das fachadas mais bonitas do Chiado, um dos símbolos da Arte Nova em Lisboa.
Fundada em 1924, por Alberto Sampaio, ainda hoje pertence à mesma família. Começou por vender pratas decorativas e joias (colares, brincos, alfinetes com safiras e brilhantes), mas agora um dos principais negócios é a filigrana portuguesa.
Morada: Rua do Carmo 87-B
O Mundo do Livro
Fundada em 1945 no Largo da Trindade, esta livraria-antiquário já teria, por si só, muitas histórias para contar.
Mas o seu detalhe mais curioso está relacionado com o dono, João Rodrigues Pires, que aos 100 anos era considerado o alfarrabista mais antigo de Lisboa (faleceu em 2019).
Os três andares desta casa quase parecem um museu, tantos são os livros antigos (e raros) que emolduram as paredes, muitos deles em edições limitadas e assinados pelo autor.
Hoje vende, sobretudo, gravuras, mapas, molduras e postais.
Morada: Largo da Trindade 11-13
Pequeno Jardim
No vão de escadas do nº 61 da Rua Garrett, em pleno Chiado, cabe um jardim inteiro.
A florista mais pequena de Lisboa, Pequeno Jardim, tem rosas, cravos, papoilas, sardinheiras, malmequeres, camélias e outras tantas espécies que perfumam e dão cor a uma das ruas mais elegantes de Lisboa.
A casa já existe desde 1922 ou seja, há quase 100 anos. Agora, imagina quantos enamorados passaram por lá e, num impulso, compraram uma flor para oferecer aquela pessoa especial.
Morada: Rua Garrett 61
Livraria Bertrand
Reconhecida pelo Guinness Book como a livraria mais antiga do mundo ainda em atividade, a Bertrand do Chiado foi fundada em 1732 por dois irmãos franceses.
Hoje, é um local de visita obrigatória a quem passa pela Rua Garrett, convidando turistas e locais a descobrirem as suas sete salas, a maioria com o nome de um escritor: Aquilino Ribeiro, José Saramago, Eça de Queiroz, Almada Negreiros, Alexandre Herculano e Sophia de Mello Breyner.
Os novos tempos trouxeram um novo espaço, ao fundo do longo corredor: um café com petiscos que convidam a “provar os livros” e as receitas culinárias que estes guardam nas prateleiras em redor.
Livraria Ferin
Fundada em 1840 num antigo convento, é a segunda livraria mais antiga do país, logo a seguir à Bertrand.
Foi frequentada por escritores ilustres, como Eça de Queiroz, Fernando Pessoa ou José Saramago e escapou por um triz ao incêndio do Chiado, mas esteve à beira de fechar portas por causa da falta de leitores, até ser comprada pelo mesmo dono da Ler Devagar (José Pinho).
Hoje, esta casa emblemática do Chiado mantém o charme de sempre, oferecendo dois espaços distintos: um com fundos de catálogo e novidades, e outro para os livros em saldo e as obras infantis. Recebe também uma programação cultural variada.
Morada: Rua Nova do Almada 72
Pastelaria Benard
Fundada em 1868, começou por abrir portas na Rua do Loreto ainda como Patisserie Benard, o apelido do fundador.
Depois, mudou para Pastelaria Benard porque, no início do século passado, os estabelecimentos com dísticos em estrangeiro na fachada passaram a ter de pagar 500 reis à Câmara.
Já antes, em 1902, a Benard tinha mudado para a atual morada, mas durante longos anos, continuou a ser um espaço frequentado sobretudo por senhoras.
A partir de 1940 passou a destacar-se pelos faustosos banquetes que organizava. E, num deles, até serviu a Rainha Isabel II.
Depois de uma fase de declínio, nos 80 passou para as mãos de uma empreendedora (Maria Augusta Montes) que lhe devolveu o requinte de sempre.
Hoje é um local incontornável do Chiado e são poucos os que nunca provaram os seus famosos croissants.
Morada: Rua Garrett 104
Casa Havaneza
A tabacaria mais antiga de Lisboa terá sido fundada em 1864 (a data não é consensual) e um dos primeiros donos foi o banqueiro Henry Burnay.
Famosa por vender as melhores marcas de charutos cubanos e uma grande variedade de tabacos, foi sempre frequentada por personalidades de várias áreas, caso de Eça de Queirós, que chegou a mencioná-la na sua obra “Os Maias”.
Barbearia Campos
Fernando Pessoa, Ramalho Ortigão, Almada Negreiros e Vasco Santana foram alguns dos notáveis que passaram por esta barbearia fundada em 1886, a mais antiga do país.
Tantos anos depois, ainda ostenta, orgulhosa, uma bela bancada em mármore, as cadeiras de barbeiro de inícios do século XX, o chão original de mosaico e os instrumentos antigos, agora em exposição.
Esta barbearia ainda aparece por aqui, mas por mera nostalgia (ainda não temos coragem de a retirar desta lista), visto ter encerrado as suas portas no final de 2023.