Ainda me recordo, como se fosse hoje, do dia em que me mudei para a Alameda Afonso Henriques. Na altura, a primeira coisa que me sugeriram, ainda nem sequer tinha desfeito as malas, foi: “tens de ir até à Pastelaria Mexicana, é mesmo perto da tua nova casa, e vais adorar.”
Claro que, no dia seguinte, já estava sentado na famosa esplanada desta pastelaria-restaurante. E sim, adorei!
Passou a ser um dos meus locais preferidos na cidade, bastando-me subir a Avenida Guerra Junqueiro, uma artéria bem conhecida dos munícipes deste lado de Lisboa, que ali se deslocavam para vários tipos de compras, seja para o seu dia a dia, como nas épocas mais festivas, como o Natal.
A história da Pastelaria Mexicana
Esta é a minha história, muito resumida, deste espaço icónico em Lisboa. Agora vamos conhecer como tudo começou, em 1946!
Nos anos 40, a atual Praça de Londres chamava-se Praça do México, e daí o nome da Pastelaria Mexicana, desenhada pelo arquiteto Jorge Ferreira Chaves e gerida pelos quatro empresários José Vicente, Adelino Antunes, Augusto Godinho e Manuel Penteado.
Na altura, foi um dos primeiros negócios a trazer animação e dinamismo a esta área lisboeta, na interseção entre a zona da Alameda e a Avenida de Roma.
Quem já lá entrou, decerto tem na memória um dos elementos mais atrativos deste lugar, que faz parte da essência e da história desta pastelaria: o famoso painel cerâmico “Sol Mexicano”, da autoria do artista português Querubim Lapa, tendo sido criado em 1962.
Durante muitos e muitos anos, a Pastelaria Mexicana serviu de abrigo a várias gerações e grupos de tertúlia.
E ainda hoje passam por lá famílias e amigos de sempre, que ali se juntam, lá dentro ou lá fora, na generosa esplanada, para conviver e partilhar memórias.
E não te espantes se encontrares por lá um engraxador! Já faz parte da “mobília” há 50 anos, sendo também um destaque de grande relevância para quem sempre viu neste um lugar de recordações e bons momentos.
A qualidade mantém-se
A Pastelaria Mexicana nunca esmoreceu com o passar do tempo, adaptando-se sempre aos tempos modernos.
Hoje, com nova direção, possui um interior renovado, mas com a mesma beleza de sempre, não desfigurando um dos pontos de encontro preferidos dos lisboetas.
As funções de pastelaria continuam, às quais juntou uma padaria, que trouxe às montras e vitrines da Mexicana novos produtos.
Foi ainda reaberta a taberna e o restaurante, um espaço na cave que estava fechado há longos anos, e que agora todos podem revisitar para uma refeição mais prolongada.
Visitado por quase todos
Confesso que já não passo lá há algum tempo, mas tenho a certeza que continua a ser visitado, tanto por vizinhos de sempre como por saudosistas como eu.
Por esta não ser uma zona de atrações turísticas, cremos que o turista não seja o visitante mais regular, o que pode ser uma excelente notícia para quem pretende “fugir” para sítios mais calmos na cidade, e sentar-se num destes – não menos icónicos – bancos de balcão da Pastelaria Mexicana.
O que vais encontrar por lá, hoje em dia
O espaço respira modernidade e até as receitas foram reformuladas para trazer mais gente a este lado da capital. E a prova disso é que voltou a ter casa-cheia, quase a todas as horas do dia.
O ambiente é animado para as famílias de amigos que se pretendem reencontrar, e é tranquilo, perfeito para o estudante que precisa de rever a matéria dada.
Voltou, também, a ser aquele espaço onde, de manhã, se põe a conversa em dia ou se discutem as capas dos jornais.
Voltou a ser aquilo que sempre conhecemos, um lugar sossegado onde ainda se sente a Lisboa antiga.
Para último, deixamos uma das coisas que sempre julgámos única num espaço de restauração em Lisboa, aquilo a que simpaticamente os colaboradores da Mexicana chamam de “passarinheiro”, e cuja ideia é ainda hoje de difícil entendimento: dizem os mais antigos que serviria para entreter as crianças.
Trata-se de uma enorme gaiola, com um tronco de uma árvore lá dentro, onde vivem alguns pássaros, sem dúvida uma decoração muito especial e peculiar, que temos a certeza não vais encontrar em mais lado nenhum na cidade.
Morada: Avenida Guerra Junqueiro 30C
Horário: todos os dias, das 07h30 às 22h
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