Os filmes de terror têm a capacidade de nos deixar com ‘pele de galinha’ devido aos relatos e cenários assustadores. Na mesma linha, as histórias de ‘serial killers’ também são capazes de causar-nos calafrios. Mais ainda, quando se trata de factos verídicos. Por exemplo, já ouviste falar em Diogo Alves?
À primeira vista, o seu nome pode não significar nada para ti. Mas, e se dissermos que se trata do primeiro ‘serial killer’ que Portugal conheceu? No século XIX, aterrorizou a cidade de Lisboa, suspeitando-se que terá assassinado dezenas de pessoas.
Contudo, a sua figura (e mito) sobreviveu ao passar do tempo, transformando-se em sinónimo de puro terror. Porém, o mais curioso é que a sua cabeça também. Pois, ainda hoje ‘assombra’ o edifício da Faculdade de Medicina de Lisboa, onde se encontra perfeitamente preservada em formol.
Índice
Quem foi Diogo Alves?
Introduções à parte, agora é a altura de conhecermos um pouco melhor esta figura assustadora. Além disso, convém salientar que Diogo Alves ficou para a História não só como um dos primeiros ‘serial killers’ em Portugal, mas também por ter sido um dos últimos condenados à morte.
Segundo algumas fontes, consta-se que terá nascido em 1810, na Galiza. Mais tarde, mas ainda muito novo, imigrou para a capital portuguesa. Por aqui, começou a servir em casas abastadas para ganhar a vida. Mas, parece que esse trabalho não foi suficiente, pelo que se virou para o mundo do crime.
Quais foram os crimes cometidos?
Diogo Alves, ou “O Pancada” — alcunha pela qual ficou conhecido —, terá assassinado, pelo menos, cerca de uma centena de pessoas ‘só’ no Aqueduto de Águas Livres, em Lisboa. No entanto, é impossível apontar com exatidão o número correto, até porque estes crimes nem constam no processo judicial do seu enforcamento, mas já lá vamos.
De acordo com algumas teorias, os assassinatos no histórico edifício lisboeta terão ocorrido entre 1836 e 1839. Porém, quem eram as vítimas? E qual o seu modus operandi? Por norma, Diogo Alves abordava os desafortunados, ao cair da noite, quando regressavam a casa depois de um dia de labuta.
Neste contexto, lavadeiras e agricultores foram alguns dos que sofreram o triste fado de se cruzar no caminho do ‘serial killer’. Insatisfeito com o facto de assaltar, aproveitava os 65 metros de altura do Aqueduto de Águas Livres para atirar as vítimas do topo do arco, como se de um suicídio se tratasse.
Para conseguir tais ‘feitos’, Diogo Alves terá roubado uma das chaves mestras do aqueduto, de modo a conseguir infiltrar-se, sem que ninguém desse pela sua presença. Durante algum tempo, os homicídios passaram impunes. Pois, devido à instabilidade económica e política, pensava-se que as pessoas simplesmente queriam pôr fim à sua vida.
“O Crime da Rua das Flores”
As ocorrências começaram a ser tantas, que as autoridades não tiveram alternativa a não ser a de encerrar o aqueduto. Depois disso, Diogo Alves decidiu montar então uma quadrilha e atacar casas residenciais… e foi aí o princípio do seu fim.
Ou seja, foi precisamente um destes crimes que o levou à forca. Em particular, o conhecido “Crime da Rua das Flores”. Corria o ano de 1839, quando Diogo Alves e os seus ‘comparsas’ invadiram a casa do conceituado médico Pedro de Andrade, matando-o e à sua família.
O descuido e as várias testemunhas deixadas serviram de prenúncio. Contudo, o que realmente levou o ‘serial killer’ à forca foi o facto de um dos membros do seu grupo ter sido detido, acabando por confessar os crimes e por entregar todos os companheiros, incluindo Diogo Alves.
Diogo Alves, um dos últimos condenados à morte
Depois de tudo, o atemorizador Diogo acabou por ser condenado à morte por enforcamento em 1840, tendo a sentença sido cumprida a 19 de fevereiro de 1841.
Todavia, um aspeto, no mínimo curioso, é que no seu processo judicial não constam, como já mencionamos, as mortes do aqueduto. Porém, isso não impediu que o mito sobrevivesse ao passar do tempo.
Cabeça preservada em formol
Perante este cenário digno de um filme de Hollywood, mas completamente insólito em Portugal, a sua alegada cabeça foi entregue a um grupo de cientistas. O objetivo passava por investigar as causas para tamanha crueldade, numa prática conhecida como frenologia, típica daquela época.
Ainda hoje, Diogo Alves continua a aterrorizar quem o visita no velho Teatro Anatómico, atualmente parte do Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Conservado em formol, com um ar sarcasticamente tranquilo, o ‘serial killer’ mais famoso de Portugal mira-nos de olhos bem abertos, sabendo que a sua história extravasou fronteiras!