O Convento dos Capuchos, em Sintra, é bem capaz de ser um dos menos desprovidos de luxos que existem em Portugal, e talvez no mundo.
E basta uma visita até este lugar incrível na Serra de Sintra para descobrires isso mesmo, para conheceres como viviam os frades daquela altura, de como este lugar servia apenas para contemplação e introspeção, desprovido de qualquer luxo e de conforto.
Convento dos Capuchos, da Cortiça ou de Santa Cruz da Serra de Sintra?
É por Convento dos Capuchos que é mais conhecido, mas a verdade é que este espaço também é apelidado de Convento da Cortiça ou Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra, e já vamos saber as razões.
Este convento contrasta de uma forma gigantesca com a exuberância dos palácios de Sintra. Pertencente à Ordem dos Franciscanos, este espaço destaca-se claramente pela sua simplicidade, com pequenos edifícios e onde se nota uma pobreza de construção pouco vista neste tipo de entidades religiosas.
E é precisamente por isso que o Convento dos Capuchos é tão original e especial. As pequenas habitações misturam-se de uma forma muito particular com a natureza envolvente, com a vegetação e os enormes penedos de granito a contribuírem de forma estonteante para a beleza deste local.
À volta, há ainda um bosque, que até hoje permanece intacto, revelando-se um dos mais incríveis exemplos de floresta primitiva em toda a Serra de Sintra. É um espetáculo natural que só visto se consegue perceber a sua dimensão.
A história por detrás dos nomes
Mas então de onde aparecem estas três designações? Foi D. Álvaro de Castro que promoveu este lugar a convento em 1560, tendo-lhe atribuído o nome de Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra, mas por ser um sítio despojado de grande conforto ou luxos, grande parte da sua construção e decoração usaram a cortiça como matéria-prima e, daí, também o nome de Convento da Cortiça.
Segundo a filosofia e os ideais da Ordem de São Francisco de Assis, a intenção desta casa era a procura do aperfeiçoamento espiritual, e daí a renúncia a objetos de maior conforto do mundo exterior.
Em 1581, Filipe I de Portugal, numa visita a este convento, chegou mesmo a proferir uma frase que ficaria célebre para sempre:
Em todo o meu reino, duas coisas tenho que muito me apraz: o Escorial, por ser tão rico, e o Convento de Santa Cruz, por ser tão pobre”.
Algumas datas importantes
O Convento dos Capuchos permaneceu local de culto e peregrinação durante 250 anos, sempre habitado por frades franciscanos, um deles tornado mais conhecido, Frei Honório, que segundo a lenda passou os últimos dias da sua vida isolado a pão e água, numa pequena gruta da mata perto deste espaço religioso, por ter caído em tentação.
Em 1834, com o fim das Ordens Religiosas no país, o Convento dos Capuchos ficou ao abandono, tendo depois sido comprado pelo 2º conde de Penamacor, que em 1873 o terá vendido ao 1º Visconde de Monserrate, Francis Cook.
Só muito mais tarde, em 1949, é que o Estado português adquire o espaço, já muito decrépito e em mau estado de conservação. Começaram as obras de restauração.
Em 2000, a Parques de Sintra assume a sua gestão, depois de em 1995 a Paisagem Cultural de Sintra ter sido classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade, onde o Convento dos Capuchos está claramente inserido.
2013 marca o arranque das obras de conservação, restauro e requalificação deste monumento, envolvendo uma equipa multidisciplinar que faria com que este espaço pudesse ser visitado por todos, que é o que atualmente acontece.
O que deves procurar no Convento dos Capuchos
Assim que comprares o teu bilhete para visitar o Convento dos Capuchos, há sítios que são de visita obrigatória, lugares cheios de simbolismos e carregados de histórias.
Por isso, quando estiveres por lá, não te esqueças de procurar estes sítios:
Portaria
Neste convento vais encontrar muitos simbolismos associados à religião. A Portaria possui uma caveira sobre dois ossos cruzados e representa a morte simbólica, uma espécie de entrada para um estado de espírito que deixa a vida “normal” para trás.
Terreiro das Cruzes
Todos os peregrinos que passavam pelo convento, à procura de conforto espiritual ou de curas milagrosas para as maleitas daquela época, teriam de passar pelo Terreiro das Cruzes, local que mostra três cruzes em representação do Gólgota, onde Cristo foi sepultado: a cruz maior, ao centro representa Cristo, e as outras duas, que representam os dois homens que foram crucificados ao lado Dele.
Uma vez aqui deves escolher um dos dois caminhos, que também têm a sua história.
Terreiro da Fonte
Era nesta área que os peregrinos que visitavam este convento eram recebidos. Aqui poderiam sentar-se às mesas de pedra e comer e beber água fresca. É também a partir daqui vais poder observar quase todos os edifícios deste convento.
Alpendre
Neste Alpendre, situado à entrada do convento, o parco simbolismo remete para a orientação de dos frades que habitavam o espaço. A cruz de madeira na parede ao fundo, já desgasta com o passar do tempo, parece mostrar a pintura de um franciscano crucificado, e os três nós do cordão significam os três votos destes religiosos devotos: pobreza, obediência e castidade.
Casa das Hortas
Os frades deste convento subsistiam quase exclusivamente das hortas, que lhes davam o sustento em produtos frescos. Local de ligação com a Natureza, as hortas também serviam como instalações sanitárias ou espaço para a realização de eventos ou atividades.
Capela da Paixão de Cristo
À direita do Alpendre fica a Capela da Paixão de Cristo, do século XVIII, decorada com a tradicional azulejaria azul e branca, com vários motivos relacionados com a Paixão de Cristo.
Igreja
Não deve haver sítio mais importante em qualquer convento que um santuário de reza, uma igreja. A do Convento dos Capuchos parece estar inserida numa pequena e apertada gruta. Esta igreja conta uma lenda que de certeza vais querer ouvir com mais pormenor quando a visitares. A simplicidade visível na foto demonstra, mais uma vez, como era a vida nesta local de culto em Sintra.
Coro Alto
O Coro Alto é a zona onde eram entoados os cânticos missais. Mais uma vez se pode observar as pobres condições em que este ato era realizado, com a cortiça e a pedra a revestir o pobre local. Esta área também servia de sacristia para receber monarcas ou membros de famílias ilustres.
Corredor das Celas
O Corredor das Celas era uma área reservada à meditação, uma pequena “solitária” silenciosa, sendo restrito aos frades residentes no Convento da Cortiça. A reduzida dimensão do espaço obrigava cada frade a uma postura de humildade perante Deus, tendo mesmo que entrar de joelhos. Serviam ainda, muitas vezes, para dormir no chão, apenas com o conforto de uma esteira de palha ou placa de cortiça.
Sala do Capítulo
As reuniões da comunidade de franciscanos que habitava este convento era realizada na Sala do Capítulo, onde eram tomadas todas as decisões por sufrágio secreto. Os votos, positivos ou negativos, eram contados através de feijões brancos e pretos, respetivamente.
Capela do Senhor no Horto
A Ermida do Senhor no Horto fica no claustro e possui, na sua fachada, a decoração de dois frescos de André Reinos, de notáveis franciscanos: S. Francisco de Assis à esquerda e Santo António de Lisboa à direita.
Ermida do Ecce Homo e Ermida do Senhor Crucificado
Se optares pelo percurso de visita à mata à volta do Convento dos Capuchos, vais encontrar muitos outros locais de devoção, como a Ermida do Ecce Homo e Ermida do Senhor Crucificado, um local de uma beleza incrível onde até vais conseguir espreitar o mar. Aqui também vais encontrar uma imagem de Cristo manietado com a inscrição em latim: “Ecce Homo” – “Eis o homem”.
Há muitos mais lugares para visitar, e muitas outras histórias para contar sobre este convento. Por isso, fica aqui a nossa sugestão para o visitares assim que possível. Temos a certeza que vais adorar este pedaço de humildade no meio da Serra de Sintra.
Morada: Estrada dos Capuchos/EN 247-3 (Colares)
Horário: todos os dias das 09h às 18h (última entrada às 17h)
Bilhetes: a partir de 5,5€, à venda no site
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