Vencedor do Blog do Ano em 2018, o projeto “Abandonados.pt” sempre nos suscitou um interesse muito peculiar, precisamente porque passei parte da minha infância à procura de lugares abandonados como estes.
Agora que estamos numa data em que é mais habitual abordar temas misteriosos e enigmáticos, a noite de Halloween ou o Dia das Bruxas, hoje decidimos que estava na hora de partilhar alguns dos lugares abandonados que nem sequer sabias que existiam.
Este é um dos projetos mais interessantes com que já nos debruçámos: afinal, quem é que nunca se questionou sobre a razão de certos locais deixarem de ser frequentados, passando, de um dia para o outro, a ser completamente deixados de parte de quem mais os visitava ou habitava?
Muitos por razões económicas, outros por apenas desinteresse ou porque a vida assim o ditou, neste projeto encontrámos um pouco de tudo.
E o mentor do “Abandonados.pt”, André Ramalho, conta-nos tudo isto através da recolha de várias fotografias e vídeos destes locais. Estás com vontade de conhecer estes lugares abandonados? Então vamos lá!
O que é o Urbex (Urban Exploring)?
Urbex (Urban Exploring) é o ato de visitar locais que se encontram ao abandono e fazer o registo em fotografia documental.
Consiste em manter o mais intacto possível o local que se visita, mas não impede que, algumas vezes, tenhamos que trespassar propriedades alheias.
Esta é ainda uma prática bastante perigosa uma vez que, sempre à espreita, pode estar o azar de pisares em estruturas que, subitamente, podem colapsar.
Da mesma forma, seja qual for o local que esteja abandonado, tens ainda os perigos de pisar em pregos velhos e ferrugentos, vidros ou até produtos químicos.
E claro, nunca esquecer os animais perigosos, como ratos, cobras ou cães, que ainda podem habitar estes locais deixados pelos humanos há muitos anos.
Casa do Campino
Abandonada há mais de 15 anos, a Casa do Campino foi descoberta em 2019 por outro “curioso” de locais abandonados, sendo estas fotos são do André, que se deslocou a este local em 2022.
Segundo outro explorador, esta casa terá sido habitada por um casal até 1950, sendo depois passada para o filho do casal, que era agricultor e caçador nos tempos livres.
Este casou e teve um filho, tendo este morrido e não deixado ninguém como herdeiro da casa, que se mantém neste estado.
Palácio Ribeira Grande
O André raramente faz expedições a Lisboa, mas numa das suas aventuras fotográficas resolveu investigar o palácio Ribeira Grande, mandado edificar pelo Marquês de Nisa, D. Francisco Luís Baltasar da Gama, no início do século XVIII.
Durante algumas décadas, com o Palácio habitado, funcionaram aqui várias escolas. Nas últimas décadas do século XX e primeiros anos deste século, o Palácio da Ribeira Grande alojou o Liceu Rainha D. Amélia.
Segundo o aventureiro, o Palácio Ribeira Grande
é um edifício interessante e é daqueles abandonados que não são fáceis de entrar, porque estando numa cidade grande, tomaram medidas para evitar que as pessoas entrem, emparedando as portas e janelas, mas com alguma ginástica foi possível entrar.”
Villa Rosa
A origem da designação Vila Rosa é uma homenagem de Joaquim da Cruz (Dono da Casa) à sua irmã Rosa que morreu nova.
A Vila Rosa, que data de meados da segunda década do século XX (1915/16), é um edifício muito bonito que no passado deve ter sido deslumbrante. Fica em Pampilhosa e segundo informações recolhidas pelo André, pertenceu ao Sr. Cruz, um homem abastado ligado à indústria fabril, que tinha uma mulher muito bonita.
Segundo consta, o senhor era muito ciumento e raramente deixava a esposa vir à rua. Por esse motivo fez esta casa com aquela vidraça, para a esposa ficar a ver o povo passar.
Há até quem diga que quando a mulher queria ir ver uma peça de teatro, o marido pagava pelos lugares todos da sala, para irem só os dois.
Taberna do Zé
No mês de janeiro de 2019, ao André visitou uma pequena taberna tradicional, modesta, mas recheada de histórias. Na parte detrás, encontrou ainda uma pequena casa onde os donos da taberna moravam, com uma casa de banho, três quartos, uma pequena sala e uma adega.
Na taberna foi deixada a máquina de café, as mesas, a caixa registadora e todos os objetos característicos de uma taberna. Segundo o André,
foi possível sentir o espírito do local e imaginar como seria aquilo, quando estava aberto e em funcionamento.”
A taberna foi aberta inicialmente pelo Sr. José e depois passou para o filho mais velho, António, que casou e teve duas filhas que foram criadas naquela casa.
Uma das filhas foi para Lisboa estudar filosofia e a outra, segundo conseguiu perceber pelas cartas, emigrou para a Suíça. A mãe faleceu alguns anos mais tarde e pelos calendários e as datas das últimas cartas, a casa e a taberna ficaram abandonadas desde 1993, provavelmente após a morte do Sr. António, que viveu muitos anos sozinho naquela casa após a morte da sua esposa.
Green Hill
Tal como com o André, quem escreve estas linhas também conhece este espaço noturno na zona centro do país, mais precisamente na Foz do Arelho.
A Green Hill foi o verdadeiro ícone dos anos 80 e 90 e marcou três gerações, todos os fins de semana durante 30 anos. Fechou em 2013.
Escola Básica 2,3 de Anadia
As escolas são alguns dos locais mais visitados pelos Urbex(s). Pelo facto de carregarem em si toda a nostalgia de quem andou na primária nos anos 80 e 90, este tipo de espaços fechados revela ser um dos mais interessantes explorar.
Na Anadia, o André descobriu duas escolas neste estado avançado de deterioração, desde 2015.
Atualmente estão muito degradadas, vandalizadas e vão sendo utilizadas por sem-abrigos para passarem a noite e jovens que aproveitam o recinto para ocasionalmente andarem de skate. Os edifícios e os terrenos pertencem ao Estado. A Câmara de Anadia tem tentado negociar com o Ministério das Finanças a compra das duas propriedades, mas está há anos à espera de conseguir um acordo relativamente ao valor de aquisição.”