Pode até parecer só mais uma festa, mas não é. A Thug Unicorn há 6 anos abre espaço dentro e fora das pistas para o público queer de Lisboa e do Porto. Tudo isto com muito trap, hip-hop, vogue, internet, gatinhos e coisas fofinhas à mistura. Se nada disto está a fazer sentido para ti, vem cá, que a gente explica.
Em 2012, quatro amigas do tipo que praticamente moram na internet, resolveram criar uma festa que representasse uma sátira ao machismo e à homofobia na cena do hip-hop e do rap. Assim surgiu a Thug Unicorn, a mistura da atitude bad-ass dos ícones do hip-hop com a energia do unicórnio, que é a antítese disto tudo. E para saberes mais sobre esta festa-que-é-mais-que-uma-festa, conversamos com a Luísa Cativo, uma das mentes por trás da Thug Unicorn.
Lisboa Secreta: Como é que surgiu a ideia da festa?
Luísa Cativo: No começo, éramos 4 amigas e começou de uma forma muito descomprometida, queríamos uma festa que tivesse trap e hip-hop, mas de uma forma mais leve, descontraída, mais feminina, também por sermos todas raparigas. Logo na primeira festa tivemos a presença de público que se identificava connosco e procurava o mesmo que nós e para nossa surpresa isso também incluiu público queer.
A questão é que nenhuma de nós tinha vivido essa experiência na pele, não sabíamos ao certo o que fazer para tornar esta festa um espaço confortável para toda a gente, e decidimos que queríamos mesmo um espaço onde toda a gente pudesse sentir-se à vontade para se explorar e para se divertir independente da sua identidade de género ou orientação sexual, cor de pele, religião, etc.
Fomos aprendendo muito com o tempo. Fomos tomando consciência de que dizer, fazer, escrever ou escolher determinada imagem poderia ser ofensivo para algum grupo e alienar essas pessoas, tornando-nos menos inclusivas. A festa cresceu muito e apanhou-nos de surpresa, nós tivemos que crescer juntamente com a festa.
Lisboa Secreta: Que tipo de música se pode ouvir na Thug Unicorn?
Luísa Cativo: Nesta festa, homenageamos os contributos da cultura negra para a música e cultura pop atual, e tentamos honrá-la ao máximo. Algumas das artistas mais influentes do momento como a Beyoncé, Rihanna e Nicki Minaj, são grandes pilares da festa e continuam a ser em conjunto com outros artistas menos mainstream uma enorme referência para a imagem e atitude da mesma. Ao mesmo tempo, é uma festa anti-dj, ou seja, não estamos preocupadas com a ordem do set ou com a passagem entre as músicas. É como uma festa em casa. Pode-se estar a ouvir um trap pesado e passar para um clássico romântico dos anos 90 e um reggaeton na sequência.
Lisboa Secreta: Como é organizar uma festa desta magnitude de forma independente?
As festas cresceram muito e os espaços não estavam a dar conta do recado nem o nosso trabalho estava a ser reconhecido no início. Chegámos a atrair um público de cerca de 1.200 pessoas numa das edições numa sala para cerca de 300/400, e na altura, levávamos 75 euros cada uma para casa. Não é fácil a negociação com os espaços. Agora, mesmo com o apoio da Desperados em algumas festas, ainda precisamos de ter outros trabalhos para conseguirmos sustentar-nos. Quando começámos, havia um público algo marginalizado que foi canalizado para a Thug Unicorn quase exclusivamente. Hoje, há muitas outras festas parecidas ou inspiradas que atraem o mesmo público e é bom sentir que pudemos inspirar outras pessoas a colocarem as suas ideias em prática, e agora, há mais espaços onde o público queer e o público feminino se sente seguro e à vontade.
Lisboa Secreta: De quanto em quanto tempo a festa acontece?
Luísa Cativo: Por norma, fazemos 1 vez por mês em Lisboa, 1 vez por mês no Porto. São cerca de 6 festas em cada cidade ao longo do ano. Este ano vamos tocar ainda no Arraial Pride Lisboa e num Festival nos Açores, o Walk&Talk.
Lisboa Secreta: É preciso muita dedicação para gerir um negócio, uma festa, espaços e uma comunidade inteira. O que te move a continuar a organizar a Thug Unicorn?
Luísa Cativo: Ao longo destes anos, virtual ou pessoalmente algumas pessoas nos contactam para dizer o quanto a festa os ajudou a sentirem-se menos sozinhos, ou que pertenciam a algum lado, ou a encontrar amigos com mais interesses em comum. Alguns dizem que lhes salvamos a vida. Isso é algo que me toca muito pessoalmente, e quero conseguir continuar a ter um impacto positivo na vida das pessoas de alguma forma. Quando vejo este tipo de situação, penso que preciso de continuar. É importante. O que me motiva é o impacto social que tem. A festa acaba por ser também uma oportunidade de empregar e dar visibilidade a pessoas que são frequentemente marginalizadas ou que são vistas como um adereço pela indústria do entretenimento, como drag queens, gays, lésbicas, pessoas não-binárias, ou que de alguma forma não se encaixam nas expectativas sociais do que uma “pessoal normal” é.
Mesmo que eu não me identifique como queer em termos de orientação sexual, insiro-me num outro sentido. Não me encaixo nos padrões e nas expectativas da sociedade, e quero lutar para que o mundo me aceite e que aceite também toda esta diversidade que procuramos fomentar.
Se o mundo está como está, é porque estamos todos a viver em bolhas. E é isso que a Thug Unicorn não quer. Queers, gays, lésbicas, binários, não-binários, intersexos, transgêneros, héteros conscientes e educados, malta do hip-hop, do eletrónico, daqui, de outro planeta, que fica parado na pista ou a dançar até suar: são todas pessoas bem-vindas, com amor, com alegria, com música, com ou sem sensualidade, com respeito e liberdade.
Se queres sentir na pele a maravilha que é estar entre thuggies coloridos, há festa nesta próxima sexta-feira!
Thug Unicorn! Rainbow Unicorns FTW // powered by: Desperados
Sexta-feira, 22 de junho, das 23h30 às 6h
Posh Lisboa
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Quanto? 8€ até o dia 21 de junho, ou 10€ no dia e na porta.