Resolvemos visitar as oficinas da Leitão & Irmão – uma das mais antigas de Portugal – para perceber um pouco mais de joalharia, quanto vale um quilate de ouro ou qual é o preço de uma peça de prata.
Esta foi, quanto a nós, a melhor forma de sabermos mais sobre esta arte tão antiga e, ao mesmo tempo, tão moderna e inspiradora.
Assim que entrámos nas oficinas da Leitão & Irmão, onde se fazem as mais maravilhosas peças de ouro, platina e prata de Lisboa, nem queríamos acreditar no que estávamos a ver: quase 200 anos de história invadiram a nossa alma.
Até recuperarmos o fôlego foi difícil largarmos aquele “ar de tótós” de quem acaba de entrar num mundo incrível que só está ao alcance de poucos, mas que tu também vais ter a sorte de conhecer.
Mas, primeiro que tudo, vamos começar por uma breve história e apresentação da Leitão & Irmão.
Leitão & Irmão: de “Joalheiros da Coroa” até aos dias de hoje
A Casa Leitão (foi assim que se chamou quando foi fundada) tem origem na cidade do Porto, em finais do século XVIII, tornando-se uma das maiores referências na joalharia nacional em 1873, quando D. Pedro II, Imperador do Brasil, a nomeou para ser “Ourives da Casa Imperial Brasileira” e, em 1887, pelo D. Luís I, rei de Portugal, foi enunciada com a distinção de “Joalheiros da Coroa Portuguesa”.
Bastavam estas poucas linhas para perceber que estávamos, já naquela altura, na presença de mestres da joalharia que teriam, com toda a certeza, uma história de sucesso inigualável.
Aliás, a própria cronologia desta Casa faz total justiça a todos os títulos alcançados.
Os títulos reais fizeram com que a Casa Leitão tivesse que transferir os seus serviços do Porto para Lisboa, onde ficaria mais perto da Corte.
Foi nesta altura que se estabeleceu com uma das mais “modernas” oficinas de ourives, e que ainda hoje se mantém em funcionamento no coração de Lisboa, mais precisamente num antigo palacete no Bairro Alto… e mais não podemos dizer, é segredo.
O local das oficinas da Leitão & Irmão é um segredo muito bem guardado, principalmente por motivos de segurança e, como podes ver nas seguintes fotografias, todo o espaço é muito antigo e ainda mantém aquela chama e paixão de quem faz um trabalho de que realmente gosta.
Modernidade, caráter e qualidade
A história da Leitão & Irmão ajuda-nos a perceber muito bem o sucesso desta casa, que hoje, além das lojas no Chiado, no Bairro Alto e no Parque Estoril, se modernizou no mundo digital com uma loja online.
Isto é o mesmo que dizer que no século XXI abriu as suas portas ao mundo, a um mundo que sempre pertenceu e ajudou a embelezar através das suas obras de arte preciosas.
Peças à medida, personalizadas, manutenção e restauro também fazem parte dos serviços, de sempre ancestrais.
A Leitão & Irmão continua a manter na sua estrutura uma equipa de profissionais de excelência, e onde também já trabalharam com, ou para esta casa, artistas como Salvador Dali, Columbano Bordalo Pinheiro, Rafael Bordalo Pinheiro ou João Cutileiro, só para referir alguns mestres de outras áreas, que “fundiram” à experiência da Leitão & Irmão, os seus próprios conhecimentos.
Algumas curiosidades sobre a Leitão & Irmão
Agradecemos esta visita ao atual responsável pela Leitão & Irmão, o Srº. Jorge Leitão, que nos levou a viajar por quase dois séculos de história da ourivesaria em Portugal.
Antes de sairmos das oficinas não perdemos a oportunidade de satisfazer a nossa curiosidade sobre o percurso desta casa até aos dias de hoje.
Lisboa Secreta (LS): Quantas pessoas trabalham atualmente na Leitão & Irmão?
Srº. Jorge Leitão: Antes da pandemia trabalhavam à volta de 50 pessoas. Todos os contratos não-efetivos não foram renovados, ninguém foi despedido, simplesmente não se renovaram os contratos. Seremos hoje, quarenta e poucos. Na oficina trabalharão cerca de 20 pessoas, nos escritórios cinco ou seis, e nas lojas cerca de 12.
LS: De que forma está estruturada a empresa: quantas oficinas, quantas lojas?
Srº. Jorge Leitão: A principal oficina é esta, no Bairro Alto. É nesta oficina que tudo nasce, é aqui que tudo pode ser fabricado. No entanto, há muito de caderno de encargos de fabrico que é entregue fora, para fazer fora… sempre com a possibilidade de fazer aqui. Ou seja, não dependemos do fabrico de terceiros, embora se use muito essa opção. Quanto às lojas, tínhamos quatro: a loja do Chiado, a loja do Bairro Alto, a loja do Estoril e a loja do Hotel Ritz, mas esta foi substituída pelo futuro, que é a loja online, que entendemos que é uma loja em todos os sítios do mundo.
LS: Qual é o tipo de serviços que oferecem: peças à medida, renovações?
Srº. Jorge Leitão: Temos as nossas coleções, que são feitas de dois em dois anos, e que existem ao longo de 100 anos. São coleções que duram muito tempo. Fazemos muitas peças à medida. Neste momento estamos a produzir duas: um gigantesco balde de gelo para um cliente brasileiro que reside no Mónaco; e um troféu de vela, que será um troféu dos próximos 50 anos e que será falado pelo mundo inteiro. Há uma infinidade de peças, como por exemplo o anel de noivado, que é uma peça muito especial porque é feita no calor da paixão.
LS: Qual é o típico cliente da Leitão & Irmão?
Srº. Jorge Leitão: O típico cliente da Leitão & Irmão é desde a peixeira de Peniche até ao nobre do Mónaco. Eu acho que abrangemos todo esse leque de pessoas.
LS: Qual é a peça que tem mais orgulho que tenha sido fabricada na Leitão & Irmão?
Foi uma peça fabricada na época dos meus pais, que é a Coroa de Nossa Senhora de Fátima, porque é a peça portuguesa mais conhecida em todo o mundo. Foi manufaturada gratuitamente com jóias oferecidas pelas mulheres de Portugal. E é uma Coroa de Rainha. Ora, como nós somos Joalheiros da Coroa, trabalhar para uma Rainha é muito adequado.
Moradas das lojas: Largo do Chiado 16 (Chiado); Travessa da Espera 8 a 14 (Bairro Alto); Av. Clotilde 52 – Arcadas do Parque (Estoril); e online em Leitão & Irmão
Neste vídeo podes ficar a saber ainda mais sobre a história centenária da Leitão & Irmão, numa visita guiada pelo atual responsável Srº. Jorge Leitão.