O sensível trabalho de André Andrade, também conhecido como o Lisboeta Italiano, começou com retratos crus inspirados na luz de Lisboa, e com o tempo, o tema homoerótico foi ganhando força nas suas fotografias.
O jovem fotógrafo, que sobretudo retratava os jogos de desejo e amor, contou-nos, em 2018, um pouco sobre a sua vida lisboeta.
1- A pergunta que não podemos deixar escapar. Porquê “Lisboeta Italiano”?
Surgiu num pensamento, entre pesquisa de imagens semelhantes entre Lisboa e Itália, e também filmes. Estava num momento de inspiração e consegui ver muitas semelhanças entre Lisboa e Itália, como por exemplo na comida ou na arquitetura, e simplesmente saiu-me da boca “Lisboeta Italiano”. Gostei da sonoridade e ficou esse nome.
2- Um sítio incrível que adoras para fotografar?
Entre casa de amantes e jardins proibidos.
3- Onde paras para tomar o teu café?
Não gosto de beber café, mas gosto de ficar a beber copos na Casa Independente. O sitio é inspirador e tem sempre gente interessante com quem podes meter conversa.
4- Se precisares de comprar novos looks, onde é que vais?
A lojas de roupa em segunda mão, como a Retro City ou A Outra Face da Lua. São sempre lojas que têm peças interessantes e acessíveis.
5-A tua luz favorita acontece em qual momento do dia?
A luz do nascer do dia e do pôr do sol.
6- Quando queres escapar de Lisboa, qual lugar escolhes?
O Porto, que é como uma segunda casa para mim.
7- O teu bairro favorito?
Alfama. Traz-me e cria-me memórias que jamais vou esquecer.
8- Do que sentes falta de Lisboa quanto te vais daqui embora?
Da luz magnífica que Lisboa tem. Por mais cidades ou países que vás, jamais terás a luz que Lisboa têm.
9- E o que te faz sentir saudades?
O quente e o conforto da luz.
10- Quais artistas de Lisboa nos recomendas conhecer o trabalho?
Três mulheres que neste momento não consigo ficar indiferente às suas conquistas: Odete, Ketia e Ness. Mas também os fotógrafos MiguelMiguel e Pedro Leote . Destaque ainda para a Label Musical Troublemaker Records.
11- Pensas que Lisboa está mais aberta à comunidade LGBTI?
Em comparação a anos anteriores, sim. Lisboa está muito mais aberta em relação a comunidade LGBTIQ+, mas existe uma batalha ainda maior na nossa comunidade, tal como a transfobia e a homofobia em Portugal, e a luta sobre a saúde mental e o suicídio, que cada vez mais vem a crescer. Seria necessário criar mais debates e apoios.
12- Da cena musical da cidade, o que andas a ouvir?
Conan Osiris, NESS e Surma.
13-Quais as “dores e os amores” de ser artista em Lisboa?
Dificilmente tens reconhecimento como artista, porque ou te dás e envolves com as pessoas certas e cresces no meio, ou então saltas lá para fora e continuas a tua luta até que as pessoas perceberem a tua mensagem e acreditem no teu trabalho.
Ao contrário é também engraçado esta coisa de ser artista, pois não me sinto como tal. Ter o reconhecimento e ter elogios ao teu trabalho é maravilhoso e faz-nos crescer. Engraçado também que, como Lisboeta Italiano, muitas pessoas não sabem que é como uma persona e não sabem quem está por detrás dessa persona.
14- Retratar o movimento queer e as pessoas trans é um trabalho artístico e também político. Quais são os teus planos/projetos daqui para a frente?
Neste momento, o meu plano é continuar o meu diário visual com o registo de momentos do mundo Queer e aproveitar para ajudar na visibilidade e reconhecimento, não só de pessoas trans, mas também de toda a comunidade.
15- Um lugar ou uma festa que sabe acolher a comunidade LGBTI da cidade?
Sem duvida, tenho um sítio que é como uma segunda casa, o Lux. Mas uma festa onde posso ver pessoas a realmente serem quem querem ser, sem preconceitos e fobias, sem duvida a festa “Mina”. Sinto que festas e movimentos como o da “Mina” precisam de voz e apoios para poderem acontecer e acolher e tornar um sítio seguro para a nossa comunidade.