Peixeiras e saloios, anónimos e famosos, prostitutas e proxenetas, noctívagos e turistas. Desde 1913 que a Casa Cid mata a fome (e a sede), sem distinções, a quem passa por lá.
Situada no coração da Ribeira, esta tasca e casa de pasto foi fundada por um galego – Eduardo Cid – que chegou a Lisboa para trabalhar num escritório, mas acabou a vender copos de vinho e petiscos a quem trabalhava no Mercado da Ribeira.
A casa começou por servir bifanas, fritos e barbatanas de bacalhau mas, aos poucos, foi aumentando a oferta e ganhando fama por outros petiscos e pratos mais substanciais.
Hoje, continua a servir pitéus à antiga portuguesa, como mão de vaca, torresmos, chanfana, dobrada e bacalhau assado, além do prato do dia, que está sempre a mudar.
A ementa mantém-se fiel às origens, mas o Cais do Sodré mudou muito ao longo dos anos, tal como a clientela da casa, que passou a vir de todos os lados.
De facto, depois das peixeiras, agricultores e outros vendedores do mercado, chegaram os moradores da zona, as meninas da vida, os noctívagos que desciam do Bairro Alto e, claro, os turistas, que agora já são quase metade da clientela.
Durante os seus 105 anos de vida, a tasca nunca deixou de pertencer à mesma família e atualmente é gerida pelo bisneto do fundador, Borja Durão, a meias com um funcionário, o Sr. Alberto.
Este está na casa há quase 45 anos, por isso são muitas as histórias que gosta de contar aos clientes, como a pancadaria com proxenetas do Cais do Sodré (que não queriam pagar a conta) ou os cozidos à portuguesa que Teresa Guilherme e Nuno da Câmara Pereira pediam… às 4 da manhã.
Isto já para não falar das memórias do Mercado da Ribeira que, em “em 1974 tinha 29 talhos, 30 ou 40 burros e carroças para carregar e uns 50 moços a descarregar”.
Borja e o Alberto têm agora em mãos a tarefa mais difícil da história da Casa Cid: garantir que a tasca continua de portas abertas. É que o edifício foi comprado por um investidor alemão que o quer transformar num hotel de luxo.
A decisão está tomada, o aviso de despejo também já avançou (até maio de 2019 têm de sair), mas eles ainda acreditam na sobrevivência deste espaço centenário.
Conseguirá a Casa Cid resistir aos novos tempos? Aos 105 anos, este cantinho da Ribeira garante que ainda tem muitos torresmos para servir e muitas histórias para contar.
Morada: Rua da Ribeira Nova, 32
Horário: 12h00 – 22h30 (sexta e sábado até às 02h00). Encerra ao domingo
Foto de capa: Nelson Jerónimo Rodrigues